domingo, 24 de março de 2013
No divã
- Ei garçom, tudo bem? Me dê mais um cigarro e uma dose
dupla de whisky, preciso te dizer algumas verdades....
Hoje quando eu acordei me encontrei com a realidade, e
com toda sua simplicidade ela se dispôs a me ouvir. Eu me deitei no divã da sua
sala chamado solidão e recitei para ela uma historia breve porem longa, esta
mesma que eu vou lhe contar.
Há aproximadamente 500 dias atrás (ou na média, 1ano e
4meses) eu me repetia e crucificava as palavras: namoro, amor, sonhos,
casamento, conciliação, paixão, desejo, afeto, carinho entre outros adjetivos
relativos. Não queria me permitir estar e nem viver estes fatos e
contraditoriamente meu coração fantasiava um conto de fadas, uma vida de filme
de romance e casais de seriados de TV. Não entendia este misto de agonia e prazer
que me envolvia, até o dia em que neutralizei meus sentidos.
Assim que neutralizados eu me deparei com um olhar vibrante,
cheio de vida, esperança, medo, insegurança, dor, tristeza e carência. Passei
dias pensando naquele olhar, naquele beijo, naquele primeiro contato e no
instante breve que tivemos. Neste dia a chuva caia a meu favor, ela vinha me trazer
o novo, e o novo me deixava inseguro – como sempre; mas de algum modo eu
tentava descobrir mais e mais, e busquei me envolver com a dona daquele olhar
que me penetrou de forma ríspida, paralisadora e apaixonante. E de uma forma rápida
estávamos nos envolvendo, nos infiltrando um na vida do outro e como um lance
de estrela cadente não víamos o tempo passar e as coisas se transformarem ao
nosso redor, e gradativamente os meus sentidos estavam focados em nós. Entre
brigas e decepções por diferenças banais começamos a deixar de lado a essência,
passamos a nos preocupar cada um por si e através de desejos “injustos”
deixamos que uma “tara” nos desviasse do caminho.
Não compreendo o porquê e em que ponto tudo se
desvencilhou. Em minha inocência, “imaturidade” e leveza eu acabei deixando de
perceber pontos e pessoas que passavam em nossa vida e deixavam feridas – acho que
eu me fortalecia demais em sua presença e estas coisas acabavam passando despercebidas.
E em um dia desfavorável, tudo acabou.
Em um momento tudo era novo de novo. Todo o misto de
agonia e prazer outrora vivido voltava com um peso de insegurança e medo. Os desejos aflorados, as “idiotices” virtuais,
o tormento e a vontade de esquecer tudo e seguir me envolviam com orgulho e me
afundaram, pois tudo era abalado nas lembranças do olhar, do beijo, do toque,
da voz, do abraço, da vida, da plenitude, de todas as risadas, das conversas serias,
das brincadeiras, da simplicidade, da amizade, do colo, do afeto, do cheiro e do
amor puro e sem segredos. Em poucas semanas já não havia mais possibilidade, já
havia sido substituído.
Em uma pausa, a Realidade me disse em poucas palavras
tudo o que eu precisava para me fortalecer:
- O tempo é o veneno e o remédio. Ele envenena e cega a
quem se deixar levar pelo orgulho, outrora ele é o remédio para curar todas as
cicatrizes e abrir os olhos. Quem entende e escolhe tomar o remédio saberá que
o que é verdadeiro e puro nunca morre, mas ressuscita com mais força. O tempo
escolhe as pessoas certas para testar a sua capacidade de entender um verdadeiro
sentimento. Quem se envenena nunca entende, quem se cura, vive e reconhece que
tudo pode mudar. Não se prenda, viva. Pois quem compreende estas coisas não se
importa com taxativo. Tudo acontece no momento certo.
Depois disto, eu acabei tomando um banho de chuva novamente
e percebi que o tempo estava favorável a mim. E que agora, sou muito mais que
antes. Obrigado por me ouvir. Cheers!
- Ei garçom, tudo bem? Me dê mais um cigarro e uma dose dupla de whisky, preciso te dizer algumas verdades....
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